quinta-feira, 5 de março de 2009

Sem atendimento, homem morre na porta do PSM

Caos é pouco para expressar a situação do atendimento do Pronto-Socorro Municipal Mário Pinotti, localizado na travessa 14 de Março, comprovada ontem à tarde por representantes do Poder Legislativo municipal. A equipe do DIÁRIO foi impedida pela direção do hospital e por integrantes da assessoria de comunicação da Prefeitura Municipal de Belém (PMB) de acompanhar a visita dos vereadores Marquinho do PT, Miguel Rodrigues (PRB), Antônio Vinagre (PTB) e Alfredo Costa (PT), mas não deixou de comprovar as denúncias contra a gestão daquele atendimento e contra o serviço público de saúde. A saúde entra na discussão da Câmara Municipal de Belém na manhã de hoje, durante uma sessão especial. Os parlamentares percorreram as dependências do prédio do PSM, escutaram reclamações e lamentações de servidores e usuários, e pediram explicações à Rejane Jatene, secretária municipal de Saúde; e Caetano Cassiano, diretor-geral do PSM. Contudo, a cena mais chocante foi a massagem cardíaca que um técnico da secretaria de Saúde de Abaetetuba fazia, dentro de uma ambulância, em Clemildo Nogueira Lima, 26, sem a ajuda de qualquer equipe do PSM.

Apesar do esforço desesperado do técnico, Clemildo morreu na ambulância. Ele teria ingerido substância conhecida por “chumbinho” e era dependente químico, relevou a mãe. RECLAMAÇÕES - Falta de tomógrafo e negatoscópio – aparelho utilizado para exames oftalmológicos - , não pagamento de médicos plantonistas desde setembro do ano passado, salas com infiltrações e superlotação foram alguns dos problemas identificados. Segundo um servidor que não quis se identificar, no último final de semana o Mário Pinotti não dispunha de fio para sutura.

Não foi difícil flagrar a “maquiagem” da direção do hospital Mário Pinotti, que tratou de retirar todas as macas que são avistadas logo que se chega ao portão de entrada do PSM. “Eles colocaram os pacientes das macas todos para uma sala só, até o chão está limpo”, revelou Dislana Martins da Silva, que desde a noite da última terça-feira aguardava pela cirurgia da cunhada.O parlamentar Marquinho (PT), integrante da Comissão de Saúde, adicionou:

“Tivemos várias informações que o tomógrafo não funcionava há três e até seis meses, mas o real é que ele não está funcionando”. O diretor geral do PSM, Caetano Cassiano, afirmou sobre o atraso nos pagamento dos médicos que “realmente houve falta de cumprimento de alguns itens referentes ao pagamento deles”. Cassiano ainda informou: “Eles devem ser ressarcidos do atraso de setembro a dezembro até o dia 15”. Sobre a falta do negatoscópio, o diretor alegou que “deve haver alguns que não estão funcionando”.


Sobre o fato da comida está sendo preparada no hospital do Guamá, Caetano concordou: “Certo, certo, eles reclamam com razão. O problema que a comida vem do Guamá pra cá, e tem todo esse problema do transporte que acaba deixando ela ficar meio, eu não digo fria porque acabei de comer. Uma delas estava até morna, mas não chega num estado que se diga bom para se digerir o alimento”.

>>> Faltam condições de trabalho“Todas as vezes que venho ao PSM fico estarrecido. Enfermaria de criança com infiltrações, colchão furado, médico de UTIsemreceber.Agente percebeu que, com a nossa chegada, era um corre-corre, não tinha paciente no corredor. Uma enfermeira denunciou que médicos do Guamá estariam vindo pra cá”, afirmou Carlos Augusto Barbosa (DEM).

Segundo ele, uma médica, em um depoimento emocionante, ressaltou: “Gente, façam alguma coisa, vocês políticos, pois nós estamos morrendo com nossos pacientes. Temos que pedir remédio em outros hospitais”. Sobre as denúncias, o Ministério Público do Estado (MPE), através da assessoria de imprensa, posicionou-se: “Sueli Cruz, promotora de Direitos Constitucionais da Área de Saúde, já vem fazendo as investigações necessárias e tomando as providências que o caso requer”. Já a assessoria do Ministério Público Federal (MPF) destaca: “Já foram tomadas todas as medidas extrajudiciais, realizadas três vistorias.

O problema é de má gestão. É uma questão gravíssima, mas o MPF estuda tomar atitudes mais drásticas, e cabe somente à prefeitura solucionar o problema”.“Fizemos inúmeras denúncias ao MPF e ao MPE, e o juiz até nos ameaçou de multa no valor de 10 mil reais porque entramos de greve por melhores condições de trabalho e por melhor atendimento à população”, lembrou Miriam Andrade, coordenadora geral do Sindicato dos Trabalhadores em Saúde do Pará (Sindsaúde).

Wilson da Silva, diretor do Sindicato dos Médicos do Estado do Pará (Sindmepa), diz que “a questão do PSM é um problema de falta de política de saúde, mas que passa também pela ausência de Política de Cargos e Salários para a valorização dos profissionais”. (Diário do Pará)

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